quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Alguma das obras de Moacyr Jaime Scliar

Contos
  • O carnaval dos animais. Porto Alegre, Movimento, 1968
  • A balada do falso Messias. São Paulo, Ática, 1976
  • Histórias da terra trêmula. São Paulo, Escrita, 1976
  • O anão no televisor. Porto Alegre, Globo, 1979
  • Os melhores contos de Moacyr Scliar. São Paulo, Global, 1984
  • Dez contos escolhidos. Brasília, Horizonte, 1984
  • O olho enigmático. Rio, Guanabara, 1986
  • Contos reunidos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995
  • O amante da Madonna. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1997
  • Os contistas. Rio, Ediouro, 1997
  • Histórias para (quase) todos os gostos. Porto Alegre, L&PM, 1998
  • Pai e filho, filho e pai. Porto Alegre, L&PM, 2002
  • Histórias que os jornais não contam. Rio de Janeiro, Agir, 2009.
  •  
  • Entre muitos outros livros, de romances,ficção infantojuvenil crônicas e ensaios.

Uma biografia mais avançada-Moacyr Scliar

Moacyr Jaime Scliar
Nascimento: 23 de março de 1937
Porto Alegre, RS
Morte: 27 de fevereiro de 2011 (73 anos)
Porto Alegre, RS
Ocupação: médico escritor
Nacionalidade:  brasileiro
Grupo étnico: judeu
Alma mater: UFRGS
Gênero literário: Crônicas, contos, romances e literatura infanto-juvenil
Obras de destaque: O Centauro no Jardim, Guerra no Bom Fim, O Exército de um Homem Só. 

Moacyr Jaime Scliar (Porto Alegre, 23 de março de 1937 — Porto Alegre, 27 de fevereiro de 2011) foi um escritor brasileiro. Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de crônicas, contos, romances, ensaios e literatura infantojuvenil.
Filho de José e Sara Scliar, Moacyr nasceu no Bom Fim, bairro que concentra a comunidade judaica. Alfabetizado pela mãe, professora primária, a partir de 1943 cursou a Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Nossa Senhora do Rosário (católico).
Em 1963, após se formar pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou sua vida como médico, fazendo residência médica. Especializou-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Iniciou os trabalhos nessa área em 1969. Em 1970, frequentou curso de pós-graduação em medicina em Israel. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Foi professor da disciplina de medicina e comunidade do curso de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Moacyr Scliar era torcedor do Cruzeiro, de Porto Alegre. Devido a sua morte, os jogadores do Cruzeiro fizeram uma homenagem para este torcedor-símbolo do clube, entrando de luto na partida contra o Grêmio, no dia 27 de fevereiro, que contou com um minuto de silêncio em homenagem a Scliar.
Entre suas obras mais importantes estão os seus contos e os romances O ciclo das águas, A estranha nação de Rafael Mendes, O exército de um homem só e O centauro no jardim, este último incluído na lista dos 100 melhores livros de temática judaica dos últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados Unidos




 

Guerra de canudos

A guerra de Canudos  aconteceu entre 1896 a 1897 na comunidade chamada de Canudos no interior da Bahia, no nordeste do Brasil. O local historicamente é caracterizada por locais improdutivos, secos e com desemprego. Vários ex-escravos e sertanejos foram para Canudos, cidade liderada pelo peregrino Antônio Conselheiro, unidos em  uma crença em  salvação milagrosa que pouparia os habitantes do sertão da exclusão econômica e social.
Os grandes fazendeiros da região se uniram a igreja em pressão a república para que fosse tomada providencia contra Antônio conselheiro e seu povo.essa união Criou humores de que Canudos se armava para atacar cidades vizinhas e partir em direção à capital para depor o governo republicano e reinstalar a Monarquia. Apesar de não haver nenhuma prova para estes rumores, o Exército foi mandado para Canudos. Três expedições militares contra Canudos saíram derrotado, o que apavorou a opinião pública, que acabou exigindo a destruição do arraial, dando legitimidade ao massacre de até vinte mil sertanejos. Além disso, estima-se que cinco mil militares tenham morrido. A guerra terminou com a destruição total de Canudos, a decapitação de muitos prisioneiros de guerra, e o incêndio de todas as casas do arraial.

Uma Biografia mais completa-Euclides Rodrigues

Nome completo Euclides Rodrigues da Cunha
Nascimento 20 de janeiro de 1866
Cantagalo
Morte 15 de agosto de 1909 (43 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade  Brasileiro
Filho(s) Mauro, Manoel Afonso, Euclides da Cunha Filho (Quidinho), Solon da Cunha
Ocupação Engenheiro, jornalista, professor, ensaísta, historiador, sociólogo e poeta
Magnum opus Os Sertões
Escola/tradição Pré-modernismo, Modernismo 
Biografia Infância e juventude:Nasceu na fazenda Saudade, em Cantagalo (Rio de Janeiro), filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe desde os 3 anos de idade, Euclides passa a viver em casa de parentes em Teresópolis, São Fidélis e na cidade do Rio de Janeiro. Em 1883 ingressa no Colégio Aquino, onde foi aluno de Benjamin Constant, que muito influenciou sua formação. Em 1885, ingressa na Escola Politécnica e, no ano seguinte, na Escola Militar da Praia Vermelha, onde novamente encontra Benjamin Constant como professor.
 Cadete republicanoContagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, durante uma revista às tropas atirou sua espada aos pés do Ministro da Guerra Tomás Coelho. A liderança da Escola tentou atribuir o ato à "fadiga por excesso de estudo", mas Euclides negou-se a aceitar esse veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por esse ato de rebeldia, foi julgado pelo Conselho de Disciplina. Em 1888, desligou-se do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal A Província de S. Paulo.
Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército recebendo promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu ser primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais. Casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da Proclamação da República. Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil.

Movimento histórico da obra.

Movimento histórico e voltada para a cidade de canudos que era uma pequena aldeia que surgiu durante o século XVIII nos arredores da Fazenda Canudos, às margens do rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conselheiro em 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anos chegando a contar por volta de 25 000 habitantes. Antônio Conselheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estar situado num vale, entre colinas.
tambem e voltada para uma guerra que aconteceu entre os habitantes e Os grandes fazendeiros da região, unindo à Igreja., foi o confronto entre o Exército Brasileiro e integrantes de um movimento popular de fundo sócio-religioso liderado por Antônio Conselheiro, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no nordeste do Brasil.
A região, historicamente caracterizada por latifúndios improdutivos, secas cíclicas e desemprego crônico, passava por uma grave crise econômica e social. Milhares de sertanejos e ex-escravos partiram para Canudos, cidadela liderada pelo peregrino Antônio Conselheiro, unidos na crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social.

Antônio Conselheiro-Biografia

      Filho do comerciante Vicente Mendes Maciel e de Maria Joaquina de Jesus, Antônio Vicente Mendes Maciel ficou órfão da mãe aos seis anos. Estudou aritmética, português, geografia, francês e latim. Entre suas leituras preferidas estavam as aventuras do imperador Carlos Magno e dos 12 pares de França, adaptações de lendas populares da idade média arraigadas no folclore nordestino.
       Depois de casado, Antônio Maciel foi traído pela mulher que fugiu com outro homem. Transtornado pela humilhação, começou a perambular sem destino certo pelo interior do Ceará e de outros Estados do Nordeste, talvez à procura dos fugitivos. Para sobreviver, trabalhou como pedreiro e construtor, ofício aprendido com o pai. Restaurava e construía capelas, igrejas e cemitérios .
      Em 1874, o Conselheiro e seus seguidores se fixaram perto da vila de Itapicuru de Cima, no sertão da Bahia, onde fundaram o arraial do Bom Jesus. Dois anos depois, acusado de ter assassinado a esposa, Antônio Conselheiro foi preso e mandado para o Ceará, onde o julgamento comprovou sua inocência.
Entretanto, seu fervor religioso aumentou durante a temporada na prisão. Da mesma maneira, aumentou seu prestígio entre os pobres, que passaram a vê-lo como um mártir. Mais gente se reuniu a sua volta e o acompanhou sertão afora, por andanças que duraram 17 anos. Em 1893, ele se estabeleceu definitivamente numa fazenda abandonada às margens do rio Vaza-Barris, numa afastada região do norte da Bahia, conhecida como Canudos.

Ali, fundou um povoado, que chamou de Belo Monte. Rapidamente, o vilarejo se transformou numa cidade cuja população é estimada entre 15 mil e 25 mil habitantes (há controvérsia entre os historiadores).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Biografia do autor

Moacyr Scliar

Nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul onde vive até hoje,exercendo a profissão de médico,o que não impede de dedicar-se também a uma bem-sucedida carreira de escritor.
Autor de mais de trinta livros entre contos, romance, crônicas e ensaios, já recebeu vários prêmios literários.
Vários de seus textos foram adaptados para televisão, o rádio, o cinema, e o teatro.Tem obras traduzidas para o romance alemão, inglês, hebraico, francês, espanhol e outros idiomas.É membro da Academia Brasileira de Letras.

domingo, 9 de setembro de 2012

Por que "Os Sertões" e "Euclides da Cunha"?


Para entender melhor o Nordeste.
Euclides da Cunha foi o primeiro a tentar entender o Nordeste. Afirmou no seu livro que a imagem da "Campanha de Canudos parece um refluxo para o passado". Que passado é esse a que se refere Euclides? É o passado do latifúndio, do patriarcalismo, da cana-de-açúcar, é o passado dos tempos do Brasil Colônia.
Entre os séculos XVI e XVII, durante o processo de colonização do Brasil por Portugal, o Nordeste era a região mais rica. A riqueza era principalmente representada pela grande propriedade rural, pela monocultura da cana-de-açúcar e pela posse de contingentes de trabalhadores escravos. Contudo, a partir do século XVIII com a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas e a descoberta de ouro na região das Minas Gerais, o Nordeste foi gradativamente perdendo sua importância econômica e política.
Porém, sobreviveram certos tradicionalismos e um deles, o mais fundamental, é a existência da grande propriedade rural. Assim foram mantidas relações sociais semelhantes às do período dos grandes Srs. de Engenho da Colônia, donos do poder e da riqueza. Desde aquela época quase tudo dependia da vontade do grande proprietário, também, denominado de Coronel. Ele era, na prática, a lei e a ordem na região.
Uma das grandes observações de Euclides da Cunha foi perceber a permanência dessas situações que vinham de nossa origem dos tempos colônias. A terra foi um dos grandes motivos que levou ao extermínio do povoado de Canudos. Contudo não foi o único. Lembre-se de que aquele temor de que a povoação fosse um foco monarquista, já por nós analisado, também, foi importante. Por isso é extremamente importante ler "Os Sertões" de Euclides, pois é uma primeira análise, em vários aspectos, já no início do século XX, sobre o que é o Nordeste.

uma 1ª visão parte 2


Apresentar os fatos históricos, as opiniões da época, as trágicas consequências da Guerra, as observações de Euclides da Cunha, ou seja, autor cria um presente que serve de paralelo e janela para compreensão do passado. Em meio às agitações que ocorriam em "Sertãozinho", promovidas pelo Jesuíno Pregador, no bairro pobre do Buraco, os colegas reúnem-se para produzir o seu trabalho escolar. Ora na casa de um, ora na casa de outro, os garotos esforçavam-se para ler e compreender tanto a difícil linguagem de Euclides da Cunha quanto as razões pelas quais aquele evento tivera um destino tão drástico. Nesses momentos, Moacir, inclusive, faz citações literais de "Os Sertões".
Em razão das dificuldades oferecidas pela leitura o grupo, a princípio, não avança muito. Contudo, a entrada no grupo de um aluno recém chegado à escola, de outra cidade, Zé, muda essa situação. É um garoto recluso, fechado, que, por isso, provoca a curiosidade dos colegas. Gui descobre através do professor que organizava o debate, Armando, que Zé é um garoto pobre que mora no Buraco. Estuda no colégio de classe média graças a uma bolsa, que conseguira em virtude de seu esforço e boas notas. Zé é um entusiasta da obra de Euclides da Cunha e se insere no grupo dando-lhe o dinamismo de que ele precisava.

A situação se agrava em "Sertãozinho", pois Jesuíno, cada vez mais, atrai pessoas para o bairro do Buraco. O local cresce diariamente com pessoas vindas até de outros municípios. Os representantes do poder de "Sertãozinho" vêem com muita preocupação e desconfiança tudo aquilo. Toda aquela gente seguindo, quase que cegamente, um homem que consideram santo. Um conflito de nefastas consequências se armava, semelhante ao que havia acontecido no tempo de Antônio Conselheiro. Canudos era no seu auge, ao final do século XIX, a segunda maior cidade da Bahia, ficando atrás apenas da capital, Salvador. Para lá seguiram toda sorte de desesperançados acompanhando Antônio Conselheiro, homem que havia vagado pelos sertões do Nordeste construindo igrejas, reformando muros de cemitério, organizando novenas e, sobretudo, pregando.
Após um saque a algumas lojas do comércio de "Sertãozinho", os empresários locais exigem medidas das autoridades. O mais pressionado a tomar uma atitude é o Delegado, pai de Gui. Narrado como homem sério e sereno, tenta evitar a tomada de medidas muito duras, que não resolveriam o problema, mas o tornaria pior. Porém, percebe que é preciso adotar alguma medida, antes que a situação fuja ao controle. De forma diferente acontecera em Canudos. Os donos de terra da Bahia e de estados vizinhos exigiram do recém implementado Governo Republicano medidas para desmobilizar aquela população. A permanência daqueles sertanejos em Canudos esvaziara a mão-de-obra da região. Naquele tempo os latifundiários, em virtude de sua incapacidade de resolver a questão pediram providências ao Governo Republicano, sediado no Rio de Janeiro. As leituras de "Os Sertões", com a ajuda Zé, iam bem até que ele desaparece depois de ver uma reportagem sobre uma grande passeata organizada pelo Jesuíno Pregador.
Gui descobre que a consternação de Zé era mais profunda. Não se resumia ao fato de Zé ser do Buraco, centro das pregações de Jesuíno. Zé era filho de Jesuíno e este havia ido para "Sertãozinho" a procura do filho. A razão de Jesuíno tornar-se um beato foi após um colapso nervoso em consequência da perda de sua pequena propriedade, desapropriada para a construção de uma represa. O outro beato, Antônio Conselheiro, também, havia tido graves problemas pessoais, uma disputa com uma família rival a sua e um casamento infeliz, que terminou de forma vergonhosa para ele, com a fuga da esposa com um soldado de polícia. Gui e alguns amigos chegam a ir ao Buraco, na tentativa de encontrar Zé.

uma 2ª visão parte 2

Scliar, quando em O sertão vai virar mar, faz a releitura de Os Sertões, o faz com uma linguagem e vocabulário bem simples, o que permite um entendimento claro do que foi este fato histórico, tão relevante de nossa história. Scliar, em seu livro, de uma maneira bastante clara, criou um enredo ficcionista que se assemelha ao de Os sertões e, no desenrolar da trama, conta a história de Canudos e seu beato. As diferenças no vocabulário e na linguagem dos dois livros são enormes e podemos comprová-las em passagens como:

"Decorre isto de sua situação topográfica. A sublevação de rochas primitivas que se alteiam aos lados, para norte e para leste, levanta-se como anteparo aos ventos regulares, que até lá progridem e torna-se condensador admirável dos escassos vapores que ainda o impregnam..." Cunha (2002, p. 229)

"No lugar chamado Buraco – uma enorme vila popular que tem mais de trinta anos, as casinhas até hoje são humildes, as condições de vida, muito duras. Em outras cidades, bairros assim são o reduto de traficantes, de criminosos. Não em Sertãozinho de Baixo..." Scliar (2003, p. 11)

Estes dois pequenos trechos têm em comum, o fato de serem, nas duas obras as primeiras descrições do local onde habitava o beato. Em Os sertões é uma descrição rebuscada e detalhada do Monte Santo ou Canudos e seu posicionamento geográfico; já em O sertão vai virar mar é um relato claro e simples do lugar chamado “Buraco”, bairro da cidade de Sertãozinho de Baixo, onde mora o beato da história contemporânea. Neste aspecto e em muitos outros, as duas obras são radicalmente diferentes. Época, costumes, estilo de vida; numa campestre, noutra urbano e outras divergências são contrapostos no livro de Scliar e assimilados primeiro por suas personagens e depois pelos leitores infanto-juvenis que estão na mesma faixa etária dos protagonistas do livro.

Se é certo que as duas obras têm suas diferenças, também é verdade que elas possuem pontos importantíssimos em comum. As fortes denúncias de injustiças sociais são marcantes nos dois livros. Euclides da Cunha foi ímpar ao retratar toda a trama de Antônio Conselheiro, desde seus infortúnios no Ceará, onde fora um pacato professor de escola primária, até o apogeu de seu ministério no sertão da Bahia. Os sertões mostrou como o misticismo e o político se emparelham e se misturam em passagens como:

Pregava contra a República, é certo. O antagonismo era inevitável. Era um derivativo à exacerbação mística; uma variante forçada ao delírio religioso” Cunha (2002, p. 190).

Quando o autor de Os sertões se embrenhou no interior, sua missão era fazer um trabalho de cobertura jornalística sobre os conflitos em Canudos, mas acabou retratando a vida do sertanejo, suas crenças, dificuldades, seu sofrimento, suas carências físicas e morais. Poucos retrataram o sertão nordestino e seu povo como Euclides da Cunha. Moacyr Scliar, relembrando as denúncias do grande jornalista, também fez as suas: foram novas denúncias, mas sobre os mesmos problemas delatados em Os sertões. Mudou-se o cenário, a época mas os problemas são os mesmos: injustiça social, desigualdade na distribuição de renda, descaso do poder público com relação às dificuldades do povo e muitos outros aspectos que vão aflorando da trama de Moacyr Scliar, como fizeram anteriormente na de Euclides da Cunha. O adaptador nos mostra “... O que me deixou indignado foi a maneira com que os responsáveis pela obra nos trataram, a mim e aos outros. Nós éramos simplesmente obstáculos que tinham que ser removidos. Mas aquelas terras, gente, eram a minha vida, a nossa vida.” Esta denúncia, como tantas outras são comuns tanto na original, como na obra adaptada.

uma 2ª visão parte 1

Em O sertão vai virar mar, o autor, Moacyr Scliar, faz uma releitura e revisão de um dos fatos mais marcantes de nossa história contemporânea: a saga de Antônio Conselheiro e os trágicos acontecimentos de Canudos. O autor, com muita propriedade e técnica literária, desenvolve um enredo, usando adolescentes de uma escola para mostrar, de uma forma bem mais simples do que a usada por Euclides da Cunha em Os Sertões, a grande tragédia ocorrida no sertão baiano.

Para esta releitura, Scliar narra a história de um grupo de alunos que vai promover o julgamento de Antônio Conselheiro na semana cultural da escola e recebe o auxílio do professor de História, que lhe apresenta o livro de Euclides da Cunha. Encantados pela maneira como o povo do sertão é descrito, os estudantes “devoram” o livro.

O Sertão Vai Virar Mar é agitado por dois eventos que dão suspense à trama. Primeiro, os jovens conhecem Zé, um menino misterioso que sabe tudo sobre Os Sertões. Em seguida, toda a cidade é abalada com a chegada de Jesuíno Pregador, que arrebanha milhares de fiéis em uma favela. O fato logo chama a atenção dos poderosos da cidade, que pressionam a polícia a reprimir o pregador.

Enquanto Euclides da Cunha, com seu português clássico, bem acima da média popular, faz uma descrição jornalística rica em detalhes e pormenores, mostrando perfeitamente como é o sertanejo e seu habitat, Moacyr Scliar, de uma maneira mais acessível ao público juvenil, narra os mesmos fatos, dando maior ênfase à mensagem a se extrair da história, e menor destaque aos detalhes dos acontecimentos. Estas duas obras escritas em épocas tão diferentes tratam da mesma trama de maneiras bem diversas, mas a adaptação mantém a essência da original, conta a mesma história, só que contextualizada na realidade das personagens de O sertão vai virar mar. Nesta, o autor recria um beato com as mesmas características religiosas do beato de Euclides da Cunha, inserido na época em que se passa a trama da história adaptada. Scliar ainda coloca no enredo um filho adolescente do religioso, fazendo parte do grupo de estudantes que estudará e discutirá Os Sertões durante o desenrolar da história.

uma 1ª visão parte 1

A cidade de Sertãozinho, embora ainda de tamanho modesto, já apresentava algumas comodidades que desenvolvimento econômico traz, lá havia algumas indústrias e um shopping, por exemplo. Elementos bastante diferentes do que a memória da Guerra e do que se imagina quando se ouve a palavra Sertão, que é dor, tristeza, fome e miséria. Como a intenção do livro "O Sertão vai virar mar" de Moacir Scliar é fazer uma leitura da obra de Euclides da Cunha, "Os Sertões" - que narra os fatos sobre a Guerra de Canudos - as histórias da Guerra e de "Sertãozinho", na narrativa, são cronologicamente paralelas. Na verdade, os eventos narrados na imaginária cidade de "Sertãozinho" são um meio didático de se interpretar as razões, os acontecimentos e as consequências da Guerra de Canudos. Em razão disso, entre outros aspectos, a história tem início em uma típica escola privada da classe média.
Nela as personagens centrais Gui, que é o narrador, Martinha, Queco, Gê, Cíntia e Zé, colegas da escola, receberam a tarefa de fazer um debate sobre "Os Sertões". Esse debate fora motivado pela importância da obra, pelo fato de "Sertãozinho" estar próxima à antiga Canudos e, sobretudo, porque surgira na cidade um pregador chamado Jesuíno, que estava reunindo, principalmente a população pobre, a sua volta. É como se a história de Canudos de alguma forma retornasse. Esse retorno trazia enormes preocupações para todos de "Sertãozinho", já que o fim de Canudos fora trágico. O debate sobre "Os Sertões" seria feito através de um "júri simulado", que é uma técnica pedagógica que consiste em se escolher um tema que é debatido por alunos divididos em equipes. Os alunos apresentariam os pontos de vista sobre o tema.
A intenção do "júri simulado" é fazer com que os alunos desenvolvam a sua capacidade de argumentação. No caso dos colegas de "Sertãozinho", a escolha da obra para o debate é a opção de por em questão a Guerra de Canudos. Como fatos semelhantes, que antecederam a Guerra, estavam acontecendo em "Sertãozinho", portanto, realizar o debate era entender o passado para compreender o que acontecia no presente. Desta forma, os alunos teriam que ler "Os Sertões" para poder preparar o debate. No momento, em que os colegas de escola estão reunidos para ler e discutir "Os Sertões", Moacir Scliar os utiliza para desenvolver as leituras sobre a obra de Euclides da Cunha.

Personagens do livro,E algumas caracteristicas

Gui (Guilherme Galvão) -  É o narrador. Filho do delegado Jorge e da enfermeira chefe do hospital, é um garoto alto e calmo. Quando adulto se formou em medicina.

Martinha - Queria ser jornalista, ela é uma menina muito inquieta, curiosa, que gosta de saber das coisas e pergunta tudo. É amiga da Gui, do Gê e do Queco.

Queco - É o filho do dono do shopping, gordinho, rico, vestia-se bem e era bom de conversa. Se candidatou para o grêmio estudantil, mas perdeu para Gê. Queco é irônico e agressivo

Gê (Geraldo Camargo) - é presidente do grêmio estudantil. Um garoto inquieto e meio irritado, mas um bom líder. Começou a facudade de direito mas largou para se tornar vereador, o mais novo de Sertãozinho de Baixo.

Zé (Jozé Gonçalves) -Vivia isolado, meio triste, mas muito inteligente. Mais tarde descobre-se que ele era filho de Jesuíno Pregador. Gosta de Martinha.

Jesuíno - Apareceu repentinamente na cidade pregando profecias apocalípticas e a união do povo, com o tempo ganhou muitos seguidores. Se abrigou na Vila Buraco, lugar considerado pobre da cidade de Sertãozinho de Baixo.

Jorge Galvão (Delegado Jorge) - Pai de Gui, um homem muito admirado e respeitado pelos moradores de Sertãozinho de Baixo.

Armando - Professor de história do colégio Horizonte. Animado, inteligente e criativo, apresenta um programa de rádio chamado "A história hoje".

Fernando Nogueira - Pai de Queco, é dono do shopping da cidade. Por ter patrocinado a capanha do prefeito da cidade exercia sobre ele um grande poder.

Fernando de Assis - Prefeito de Sertãozinho de Baixo, é um homem de muitas ambições que tinha a proposta de mudar o nome da cidade para Novo Sertão.

um resumo inicial.


A narrativa tem início em uma cidade do sertão baiano chamada "Sertãozinho de Baixo". Ela ficaria, já que é fictícia, próxima à antiga vila de Canudos, local onde acontecera a Guerra de Canudos, há pouco mais de cem anos. Mas, os moradores de "Sertãozinho" não desejam relembrar tais eventos, pois traziam na memória as desgraças pelas quais passou a região e sua população.